terça-feira, 7 de junho de 2011

Como Estragar o Ministério


(Mateus 7.1-23)

O cristão corre um grande perigo. Ele pode prender tanto sua atenção corrigindo outras pessoas que acaba sendo reprovado diante de Deus. Não só o obreiro, mas todos os crentes estão sujeitos a este dilema: como reagir quando se percebe impureza, ou falta de justiça na vida de outra pessoa? A impureza deve ser condenada? Pode ser tolerada?

Deus não concede ao obreiro privilégios de posição. Não lhe é permitido condenar o mal na vida dos outros ao mesmo tempo em que experimenta o perdão de Deus pelo mal em sua própria vida.

Durante os séculos, os crentes têm enfrentado uma tentação sutil: a de se julgarem mais santos do que aqueles que "andam nas trevas". Infelizmente, esta atitude acaba afastando as próprias pessoas que Deus quer trazer de volta para Ele. Ela (atitude)tem contribuído para dividir igrejas e afastar filhos de crentes; além disso, impede que igrejas com doutrinas corretas façam aquilo que Deus mais deseja: comunicar as boas novas ao pecador.

Jesus pregou esta mensagem fundamental: "Deus tem misericórdia do pecador". Jesus veio do Pai para trazer seus filhos perdidos de volta. Enquanto os líderes religiosos da época condenavam os discípulos por serem ladrões, incultos, mentirosos, Jesus os amou e os chamou para "estarem com ele e para os enviar a pregar" (Mc 3.14). Quando criticado por associar-se com eles numa festa, Jesus disse que os amava justamente porque não eram justos (Mt 9.13).

Ao instruir os discípulos, Jesus os chamou para representarem o Seu reino neste mundo (Mt 5.13-16). O Reino de Jesus é um Reino de santidade. Assim sendo, seria natural pensar que era necessário ensinar aos outros serem santos. No entanto, Jesus os ensinou a tomar mais cuidado com sua própria santidade do que com a dos outros.

O que, então, devemos fazer ao depararmos com a injustiça na vida de alguém? Jesus deu sete dicas para que os discípulos não permitissem que a falta de santidade nos outros estragasse as suas vidas e ministério.

Não julgar (Mt 7.1-5)

Uma coisa que, na certa, desfaz toda a obra que Deus quer fazer em e através dos Seus filhos é quando eles ficam julgando outros. Aqui Jesus faz uso de uma imagem ridícula. É a imagem da pessoa que tenta remover um cisco do olho do irmão quando ele mesmo tem um pedaço de madeira no seu!
Ele não quis dizer que uma vez que removemos o pedaço de pau que está no nosso olho, temos o direito de nos preocuparmos com o argueiro do olho do vizinho. Só pensar que tenho o direito de julgar os outros significa que tenho uma grande lasca nos meus olhos que me cega.

No momento em que julgo, confesso que me considero justo. Paulo deixa bem claro em Romanos 1-3 que todos são condenáveis. Eu sou igual aos outros homens. A diferença é que meu pecado foi coberto!

No momento em que eu julgo, ponho-me na posição de Deus. Só Deus tem o direito de julgar. E Ele vai julgar! Um dia todos prestarão contas a Deus. A injustiça não precisa nos atingir porque confiamos que Deus um dia acabará com ela.

No momento em que eu julgo, deixo de expressar o amor e aceitação àqueles que Deus ama e deseja aceitar. A pergunta que surge é a seguinte: "Como posso deixar de condenar o pecado na vida daqueles que eu amo?". A resposta está na reação de Deus ao nosso pecado. O amor de Cristo para com o pecador é a mais forte condenação ao pecado que existe! Ele odiou tanto o pecado que passou pela morte para livrar o mundo dele. Nossa condenação pode, eventualmente, expressar a santidade e justiça condenadora de Deus, mas nunca expressará o amor e a extensão da misericórdia de Deus.

Não pregar sermão encomendado (Mt 7.6)

É fácil pregar quando queremos mudar algo na vida dos outros. Pregamos à esposa, aos filhos, aos colegas, e até à igreja com a intenção de mostrar para eles que estão errados em guma coisa e que deveriam mudar. Normalmente não dá resultado pregar assim. É gastar preciosa energia e as pessoas, às vezes, reagem à mensagem até com raiva.

Jesus chamou isto lançar pérolas aos porcos! Além de ser desperdício de tempo, as pessoas ainda acabam jogando em nossa cara aquilo que pregamos. Santidade não é algo que posso impôr aos outros. Devo reconhecer o valor das pérolas de graça que eu tenho para desenvolver a santidade em minha vida (Fp 3.12).

Pedir a justiça de Deus através da oração (Mt 7.7-11)

Aqui Jesus oferece uma solução para o dilema do homem de Deus que vê injustiça nos outros: a oração. O desejo de eliminar a injustiça da vida de outros é legítimo. Jesus não condena este desejo. Por isso Ele diz: "Pedi e dar-se-vos-á". Podemos buscar na presença d'Ele santidade para nossas vidas e para a vida dos outros. Podemos, pela oração, operar mudanças na vida do rebanho. Nosso ministério não pode limitar-se a pregar, visitar e construir templos. O ministério mais eficaz é quando estamos com a porta fechada e na presença de Deus. E não poderemos pedir melhor dádiva a Deus do que a misericórdia que produzirá justiça nos homens. Esta é a única maneira eficaz de alcançar a justiça na vida dos outros. Não possuímos nenhum outro poder sobre suas vidas.

Colocar-se na posição do outro (Mt 7.12)

Para solucionar nosso dilema, Jesus deu uma sugestão prática: tratar os outros da mesma maneira que nós gostaríamos de ser tratados quando nossa injustiça é descoberta: com misericórdia.

Não gostamos de ser condenados. Por isso não devemos condenar. Isso não significa que devemos justificar o mal cometido. Devo deixar de desculpar em mim mesmo o que condeno nos outros.

Ter o cuidado para não fazer a mesma coisa que está condenando nos outros (Mt 7.13-14)

Se observarmos o mal nos outros, ele pode servir de alerta para não os acompanharmos, pois estão a caminho da destruição. A separação é conseqüência natural de andarmos no caminho estreito. Como são poucos os que se acertam com este caminho, exige toda nossa concentração. Buscar o Reino de Deus e sua justiça exige atenção para o caminho em que nós andamos.

Não ser influenciado pelos falsos profetas (Mt 7.15-20)

Os falsos profetas devem ser denunciados? A tendência de todos é denunciar as obras que não parecem seguir o padrão bíblico. Às vezes, é porque queremos proteger o rebanho. Paulo fez isto na carta aos Gálatas.

Jesus, porém, não ensina os discípulos a denunciar falsos profetas. Ele apenas diz: "Acautelai-vos".

Denunciar aqueles que cremos serem falsos profetas é um trabalho perigoso. Não sabemos todas as coisas e podemos fazer falsas acusações. O que taxamos de doutrinas falsas pode não ser tão importante para Deus. Nossa denúncia pode chamar atenção indevida para algo que Deus já prometeu destruir.

Há uma simplicidade invejável na atitude que Deus ensina. Quando acredito que alguém, ou algum grupo, não representa Deus, verdadeiramente, não preciso denunciá-lo, pois confio em Deus. Para mim, basta o trabalho de não permitir que me influenciem, ou que subam no meu púlpito.

Não pensar que ser obreiro traz privilégios (Mt 7.21-23)

Na condição de obreiros, muitas vezes nos acomodamos na falsa certeza de que o nosso envolvimento na obra de Deus garante um relacionamento com Ele.

Corremos o perigo de nos tornarmos falsos profetas sem perceber. Isto ocorre quando nos apoiamos em grandes obras feitas no nome de Deus. Pensando que remover a injustiça do mundo é nosso trabalho, esquecemos do relacionamento com Jesus. Este relacionamento é a única chance que temos de achar misericórdia naquele dia.

Sugestões práticas

Há quatro hábitos que podemos criar que protegerão nosso relacionamento com Deus:

1. Gastar tempo diariamente no relacionamento com Deus. Não adianta querer ser um "homem de Deus" que leva o povo à vitória se você não O conhece. Procure dar a primeira hora e meia do seu dia a Ele, lendo, aprendendo e meditando em Sua Palavra.

2. Quando Deus dá uma mensagem para o povo, não fique contente apenas em pregar a mensagem. Na medida em que deixamos de aplicar estas mensagens à nossa vida, estamos nos tornando cada vez mais como os fariseus. Jesus os descreveu como "sepulcros caiados" (Mt 23.27,28 ) porque pareciam justos mas por dentro estavam cheios de hipocrisia e iniqüidade. É preciso ficar inquieto diante de uma mensagem pregada e não vivida. Pergunte-se sempre: "Estou vivendo o que estou pregando ao povo?"

3. Gravar bem na mente que é mais importante falar com Deus acerca do povo do que ao povo acerca de Deus. A oração é tão importante para a transformação de vidas como a pregação. O tempo no púlpito deve ser apoiado com tempo no gabinete em oração.

4. Sempre que perceber alguma falha em outra pessoa, pergunte-se antes de condenar: "Se eu estivesse numa situação semelhante, como teria me comportado?". Sempre procure entender por que a pessoa fez o que fez. Às vezes, o motivo está certo mas a ação está errada. Percebendo isto será muito mais fácil corrigir o erro.

Desenvolvendo estes hábitos será mais difícil nos desqualificarmos na busca do Reino de Deus. Só assim seremos servos de Deus capazes de estabelecer com Ele um Reino de Santidade e amor e de apartar muitos da iniqüidade (Ml 2.2-7).

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